Passareando

Bibliografia de Interesse da Ornitologia Brasileira
João Guimarães e suas aves: era ele um observador de aves? (artigo)
Que maravilha teu artigo! Não sou profunda conhecedora da obra do Guimarães, mas havia notado várias referências textuais às aves, como você apontou. Só não imaginava que ele era um estudioso do assunto, ou no mínimo que tinha uma curiosidade levada a sério. Obrigada por essa valiosa contribuição!”
Raquel Aranha​
Parabéns pelo teu trabalho. Imagino o esforço na elaboração e a alegria de perceber tudo bem encaminhado. Ele é um presente para os leitores que provavelmente nunca iriam mergulhar nas profundezas do poder de observação de Guimarães Rosa e muito menos navegar pelos meandros do poder de contemplação do seu espírito. Perceber e pinçar os vários aspectos que possam igualar o escritor a um modelo digno de ser admirado e reconhecido pelos critérios que você delineou são os grandes valores mostrados no texto.
Sérgio Rubens
O artigo é uma verdadeira obra-prima.
Fernando Costa Straube
O espaço geográfico na obra de João Guimarães Rosa (artigo)
Municípios brasileiros com nomes referentes a aves
Lista de aves do estado de São Paulo
Lista de aves do município de São Paulo
Canção do bairro

No meu bairro veio morá um sabiá
Um filho da puta de um sabiá!
Dia nem ameaça clareá
E o bosta já tá a cantarolá.

A forquilha já fui procurá
E um elástico pra esticá
As pedras redondas de rolá
Prá esse maldito poder matá.

Mas meu menino veio me falá
Que na escola vieram ensiná
Luz acesa a rua a iluminá
Estimula o sabiá a flauteá.

Se a luz é que desperta o sabiá
Então é só a claridade apagá
Deixa que sei bem isso arrumá
Em cada luz pedrada acertá.

Meu vizinho deu prá vim me espiá
E o tranqueira foi me denunciá
E a polícia veio me confiscá
O estilingue prá testemunhá.

O oficial compareceu a intimá
Disse que o juiz queria conversá.
Terno e gravata eu fui já emprestá
Pro doutor eu tentá impressioná.

Ele entrou bravo a me perguntá:
O estilingue é prá matá sabiá?
Não, é só prá no bicho um susto dá
E ficá um tempo sem gorjeá!

Cê não me vem querê enganá
Teu crime vai tê que compensá
Dez árvores cê vai lá plantá

Prá ter mais comida pro sabiá.
Itapety

Itapety me lembra serra,
mata atlântica, água pura
escorrendo pela terra.
De suas alturas, uma vista privilegiada
do Alto Tietê, onde ainda jazem brejos
e varjões, morada, quem diria, nesses
tempos tão modernos, de uma ave
até pouco desaparecida!
Itapety então, também é mistério,
surpresa e esperança de que estas
preciosas coisinhas aladas por aí
permaneçam... para sempre.
Já de muito longe, Itapety convida e,
quando aqui chegamos, com suas
vertentes, nos abraça e nos acolhe.
E nessas terras, que ora são planícies,
outras horas são íngremes encostas,
os que têm a riqueza desta
sensibilidade, podem ver e ouvir
essa multidão de penas e bicos.
Um pouquinho de demora e já
aparecem tucanos e saís-tucanos,
canários da terra e canários do sapê,
almas de gatos e pios de cobras.
E suas cores voam como se fossem
mágicas, ora vermelhas de sangue,
ora vermelhas de lacre, ora vermelhas
de fogo, ora até de sete cores.
Outras aparecem douradas, rubis,
ametistas. Elegantes, desfilam suas
roupas como modelos numa passarela:
gravatinhas verdes, chapéus negros,
bonés vermelhos. E pelas vozes do
curiango e do urutau, Itapety nunca
entardece sem de nós se despedir.
E pela manhã, terá o zelo de nos
acordar com toda a delicadeza,
dizendo aos nossos ouvidos um discreto
tiziu, um irerê, um bem-te-vi...

(Texto de abertura da publicação “Aves de Itapety”, da Antonio Wuo. Mogi das Cruzes, Novembro de 2006.)

Que cor tem uma ave?

Mas que cor afinal tem uma ave? Nas precisas descrições que Schauensee fez, com as peles na mão, em seu Guide to the Birds of South America, precisou, até onde compilei, perto de 100 denominativos, entre substantivos e adjetivos. Isto sem contar com as combinações diversas dessas palavras, que nos levariam a uma estimativa matemática, que de longa data não sei mais fazer.

A cor é um atributo da luz e a luz mostra-se aos nossos olhos em milhões de formas. Depende do céu, dos reflexos, das sombras, quem sabe até do humor explosivo naquele dia, do próprio sol? Certamente que o colorido de uma ave depende também de infinitas circunstâncias dela própria: de sua juventude, de seu sexo, de seu alimento, da intensidade de seus hormônios reprodutivos, de seu estresse e, quem sabe, como o brilho em nossos olhos, de seu ânimo para cantar e viver sua vida!

Já se provou cientificamente que a cor tem muito a ver com nossos sentimentos, com nossas emoções, com nossa personalidade. Isto prova que não há uma cor física estática, ela sempre será o reflexo de nosso íntimo, do que queremos ver, do que gostamos de ver, de como gostamos de ver, até de como gostamos de ser vistos. Não será também por esse motivo, tão subjetivo, tão de nosso íntimo, que gostamos tanto de ver essas criaturas tão coloridas?

Não tem muito vermelho não, as aves são para nós muito mais que objetos estáticos do mundo físico: são também as inúmeras lembranças que temos do encontro com cada uma delas, com suas poses, seus gestos, seus trejeitos, sua esquivez, que só nos deixa vê-las, muitas vezes, como rápidos e fugidios reflexos vermelhos. Deixemos, portanto, que elas sejam assim, pois jamais conseguiremos chegar a um consenso sobre a intensidade deste vermelho que está guardado na lembrança de cada um de nós.

Papa-piri, Tachuris Rubrigastra. Foto: Silvia Linhares (WikiAves)